Parte do teto cai em shopping de Osasco – SP. Como a inspeção predial – check-up das edificações –, reduziria este risco aos usuários?
Não é a primeira vez que este Shopping de Osasco passa por complicações. A primeira, e mais grave, aconteceu em 1996, onde um vazamento de gás matou 42 pessoas. E, em 2015, parte do forro despencou, mas desta vez, não deixou mortos.
Nesta quarta-feira, dia 08 de março de 2023, parte da laje do estacionamento desabou sobre a praça de alimentação. A prefeitura rapidamente interditou a operação do shopping, mas como este prejuízo, felizmente sem vítimas fatais, poderia ter sido evitado pela engenharia diagnóstica?
O primeiro ponto a se destacar é que o fato de uma edificação de uso coletivo estar com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB em dia, não garante a segurança estrutural das edificações. Uma vez que o AVCB visa proteger, prioritariamente, as condições necessárias e obrigatórias de segurança contra incêndio e pânico. Ademais, o corpo técnico do Corpo de Bombeiros seria insuficiente para atestar a estabilidade de todas as edificações de uso coletivo.
A ferramenta correta a se utilizar, com foco na segurança e solidez da edificação, é a Inspeção Predial, também conhecido, em alguns estados, como check-up das edificações, ou auto vistoria.
A inspeção predial representa tecnicamente, através de um relatório, a verdadeira condição da edificação, bem como, as necessidades e urgências das intervenções a serem realizadas, ou seja, no diagnóstico da edificação, serão apontados todos os potenciais riscos e a gravidade da evolução do risco, caso as intervenções não sejam realizadas no tempo recomendado pelo técnico habilitado e redator do relatório.
No ano de 2020 foi publicada a Norma Técnica da ABNT – NBR 16.747, com o intuito de apresentar as diretrizes técnicas para o trabalho de inspeção predial que visa, basicamente, garantir a estabilidade e segurança estrutural, através de recomendações técnicas de intervenção em manutenção ou reforma, bem como sua periodicidade.
O Desabamento.
Por volta de 14h30 da quarta-feira, 08/03/2023, a equipe de segurança do Plaza Shopping Osasco constatou uma fissura na laje do corredor principal do estabelecimento – próximo à praça de alimentação, que veio acompanhado de um vazamento. Devido ao apontamento da segurança, a área foi isolada para investigação (segundo informações do shopping às mídias).
O vazamento, neste caso, evidenciou uma movimentação drástica na laje.
Instalações hidráulicas são excelentes indicadores de rupturas de lajes, uma vez que não suportam movimentações bruscas ou de grande deslocamento entre os elementos.
O local do desabamento nem sempre foi utilizado como laje do estacionamento. Na área existia uma claraboia que fora fechada para ampliar a área útil da edificação. Um fator de risco a ser levado em consideração na Inspeção Predial.
NBR 16.747
É preconizado na NBR 16.747 que toda a documentação da edificação deve ser verificada, nos trabalhos realizados pela Ciabatari Perícias Judiciais, qualquer tipo de obra de ampliação ou reparação tem atenção especial na análise, haja vista ser um ponto frágil e potencial originador de patologias, principalmente relacionadas à corrosão de elementos metálicos, como vergalhões ou vigas.
No caso de ampliação da laje, inexiste a estrutura monolítica, formando, portanto, uma junta de dilatação que deve ter sua saúde analisada periodicamente, neste caso, as inspeções dever ser realizadas em no máximo a cada 3 a 5 anos – devido a fragilidade apontada.
Quando observada a imagem acima, observa-se que a área de ampliação – fechamento da claraboia –, fora realizada com vigas metálicas, aparentemente ancoradas nas vigas de concreto existentes, é provável que esta ancoragem já estivesse com manifestações patológicas evidentes.
Há um complicador muito negligenciado nas inspeções prediais em que se dispõe de rebaixamento de forro. Não são raros os casos em que o inspetor desatento negligencia a abertura do forro para análise dos elementos de concreto (neste caso a laje e vigas) instaladas acima, bem como as instalações hidráulicas, elétricas, de incêndio e ar-condicionado.
O fato é que, geralmente, as estruturas de concreto armado comunicam seu colapso antecipadamente. Cabe a atenção dos gestores de edificações de uso coletivo atenderem as exigências normativas e manter a edificação com o relatório de inspeção predial em dia.